Vaidade vívida embaixo do sol

'Vaidade de vaidades, vaidade de vaidades, e tudo é vaidade. ' Acaso poderei ter algum proveito dos meus dias vívidos embaixo de sol?
Tudo passa, tudo passa. Vai geração, vem geração, e algo muda? Pela manhã, saímos para trabalhar, nos fatigamos com o suor de nossas faces a cada instante, alguns de nós sequer param suas obrigações para alimentar-se, esquecem-se de que, acima de sobreviver, precisam viver.
O sol acorda de manhã bem cedo, levanta-se, e pela tarde ele se deita novamente; assim és, dia após dia, e nasce de novo, quando alguns de nós dizem: 'nasce um novo dia', acaso existe algo novo ?
O vento vai para o sul, faz seu giro para o norte; volve-se e revolve-se em sua carreira, retorna aos seus circuitos. Nada muda.
Todo rio vai para o mar, mas o mar não se enche, ao lugar para onde todos os dias, correm os rios, para lá volvem eles, cada dia novamente, e o mar não enche, os rios não se secam.
Todas as coisas são fatigantes, e tudo está sempre ligado á círculos viciosos a que estamos acorrentados; porque todos os dias se repetem, um após o outro, tudo é antigo, ninguém pode exprimir a isso; ninguém está farto de ver, nenhum ouvido cansou-se de ouvir. Todos estão acostumados ás vidinhas corriqueiras a que estão inseridos, e ninguém pensa em mudança.
 Eis que aquilo que é passado, sabemos que passou. O nosso presente já aconteceu, nosso futuro faz parte do passado, e eis que tudo já foi feito. O que foi é o que há de ser, e o que se fez, tornará a fazer, nada existe que seja novo em nossa vida embaixo do sol.
Existe algo que eu possa observar, ao dizer: 'olhem, isto é novo!'? Não, porque já foi o mesmo há séculos antes de mim, séculos antes de séculos, e tudo está repetindo-se compulsivamente aos olhos dos homens que vivem nesse mundo, a terra debaixo do sol.
Não existe para nós lembrança daquilo que nos aconteceu, e das coisas posteriores também não lembraremos, nem nós, nem nossos sucessores.
Vaidade de vaidades, vaidade e mais vaidade. Ocorre que tudo é vaidade. Estando nós acorrentados ao trabalho, para que possamos consumir deliberadamente as nossas necessidades que nunca existiram, isto também é vaidade, visto que nada precisamos além do que vestir, e o que nos sustentar. Mas, sem dar-nos conta, trabalhando sobre maneira a esquecer-nos do que nos é verdadeiramente importante, aquilo que necessitamos. Porque, para nos suster, trabalhamos muito, e trabalhando, esquecemo-nos até de comer, e isto é vaidade.
Estive observando a vida debaixo do sol,  e eis que algumas coisas fizeram entristecer-me o coração. Vi que tudo é vaidade, cada obra que faz-se em vida aos homens, nada disso é certo, e claramente descobri que os vaidosos vivem suas vidas a correr atrás do vento, a aprisionar-se a si mesmos em seus círculos.
E eu quis a sabedoria humana, buscando entender o porquê das enfadonhas horas de cada atitude meramente controlada pelo tempo, e me enchi de terror, por quê em muito sabedoria há muito enfado, quem aumenta em ciência, também aumenta em tristeza. Tristeza sem razão, a qual não sei de onde veio, se é que já não esteve presa em mim, agora, pois, liberta. Sem razão porque nada pude entender.
Para ser sincera, mesmo eu, não sei o que estou fazendo. Vaidade de vaidades, vaidade e mais vaidade, eis que tudo é vaidade.  Talvez esteja agindo certo, e é claro que talvez eu não o esteja. Ora, corro também eu atrás do vento a cada dia de minha vida fatigante, seguindo inconsequentemente aquilo que eu sei que não tem objetivo, vai e depois volta, ao voltar, vai de novo, como rotina certa, em todo século, um após o outro, até que venha o Século dos séculos. Enquanto isso, me afago em vaidades, erroneamente tento fugir dos meus cansaços matinais.
Melhor é o dia da morte  do que o do nascimento. Melhor os dias de luto do que os dias festivos, porque em meio á tristeza, criam-se bons corações dentro de cada um. Melhor a mágoa do que o riso, é este último insensato, porquanto o coração torna-se melhor quando correm lágrimas pela face. Melhor o fim das coisas do que seu princípio.
Sorrimos para não chorar, acaso existe algum tipo de satisfação real nos dias teus embaixo do sol ?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Meu Primeiro Amor

Talvez seja só tristeza ...