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Brasília, 14 de setembro de 2020

 Eu fico pensando até as três da manhã, remoendo e mastigando meu passando e meu presente, passando cenas na minha cabeça, e não sou capaz de dormir. Às oito horas já é outro dia - hoje vai ser melhor - é minha promessa há algum tempo, e continuo dia após dia enganando a mim mesma. Ao anoitecer eu repito pra mim que amanhã será melhor, e espero os dias passarem. Me concentro em sobreviver, um dia por vez, sem nenhuma visão do que pode ser o meu futuro ou o que me aguarda na semana que vem, sem nenhum propósito a não ser o de ficar viva, aguentar mais uma semana até que eu tenha que aguentar mais outra semana.  Despejo palavras em todos, numa tentativa frustrada de fazê-los entender como é ser eu, como é sentir-se como me sinto, mas a verdade é que, por mais que minhas palavras pareçam bonitas e às vezes emocionantes, não há quem compreenda a profundidade da água em que mergulhei, e nela eu estou afundando lentamente. Imploro por ajuda, mas não há quem possa escutar meus gritos abafados