23 de julho de 2018, segunda-feira - algum lugar de SP

Faz bastante tempo que não escrevo (neste diário). A razão é que viajei para São Paulo e o esqueci na casa de minha mãe, em Curitiba. Então, nos dias em que estive em SP, escrevi no celular e também em um outro caderno que encontrei na casa da minha tia, largado - que, inclusive, está comigo agora. No futuro, quando eu estiver lendo isso, vou me lembrar dessas férias e de como foram boas e felizes, mas tive um contratempo com relação a minha alimentação - na casa da minha tia descuidei da minha saúde, e me arrependo até agora. Que Deus me perdoe desse pecado grave, mas agora estou retornando. Em SP tive muitos momentos de reflexão profunda, que vem acontecendo durantes as últimas semanas e parece estar longe de ter um fim, por causa das madrugadas que passei acordada. Alguns dos meus pensamentos eu escrevi brevemente, apenas para não esquecer, e estão pela internet a fora, outros eu só conversei com Ailson, e só ele sabe por enquanto, porque ele é o único que me entende ou que tenta me entender. Falamos sobre o tempo e sobre como a vida é estranha, e desde então não consegui travar meus pensamentos, eles não cessam. Sobre como nós somos formados por pedaços de nosso passado, e nem mesmo as expectativas sobre o futuro podem ser tão importantes na vida de um pessoa quanto o seu passado - nosso presente é feito de passado, também. estou agora escrevendo isso, e quando eu inspirar e expirar, piscar. Olhar para o lado. O momento se foi. O momento vai embora, só vai existir na minha memória a partir dali, e tudo o que eu vou ter dele são histórias sobre ele, todas no passado. Algumas histórias vão simplesmente se perder quando eu deitar minha cabeça para descansar ao anoitecer, quando meu cérebro for decidir quais memórias do dia são importantes e quais são descartáveis, com base nas minhas emoções - os momentos mais intensos são os que me lembrarei após. Custo a dizer mas quase todos os momentos dos meus dias são intensos, todas as cenas que observo pelas horas corridas do dia são coloridas, todos os cheiros são fortes, todas as dores sangram, e todo amor sabe voar, e por isso minha mente tem uma tendencia de guardar excessivamente as memórias cotidianas - mas sinceramente, algumas memórias eu não sei dizer se seria capaz de descartar manualmente. Se eu as pudesse escolher manualmente, quem vai e quem fica, seria doloroso inserir desapego das memórias. Seria algo como, ok, eu preciso apagar algo para não superlotar minha memória, o que eu apago? Apago o momento que abri os olhos ao acordar e fiquei feliz por estar ali? Não. Apago as páginas do livro que li hoje, e esqueço tudo que senti lendo aquilo, palavra por palavra? De jeito nenhum. Apago aquelas flores vermelhas que vi na rua hoje, e o cheiro que senti quando parei para farejá-las? Jamais. Talvez apague esse abraço que ganhei de um amigo, ou o almoço que tive hoje, ou a música que ouvi, ou o passeio que fiz, ou, ou, ou. Ao fim do dia, zero memórias seriam descartadas, porque nem mesmo as ruins eu conseguiria desapegar. Até mesmo a tristeza profunda, a angústia, a raiva, eu sei que tudo isso faz parte de mim, ou se não faz, fez algum dia - parte da pessoa que eu sou hoje, um conjunto de emoções, por que eu teria que abrir mão de alguma característica minha ainda que seja passada? Por isso guardo, acumulo. E tudo bem, quanto mais passado houver em mim, mais completa eu serei e mais interessante minha vida se torna. Essa coisa de "viva o presente e esqueça o passado" ou "quem vive de passado é museu" foi a pior invenção humana da história, são ideias estúpidas. O que seria de nós sem o nosso passado, sem as nossas histórias? O que seria da literatura sem o passado, se tudo o que se escreve por aí são histórias que ocorreram no passado, em maior ou em menor escala, ainda que enfeitado, misturando verdade co imaginação, porque tudo o que o um autor escreve, aconteceu com ele, ainda que apenas na sua cabeça, e isso é uma dádiva.
Nenhum momento é igual ao outro.Posso me encontrar com uma amiga, em um local, tomarmos um suco de laranja enquanto rimos como loucas de nossas bobeiras e falamos sobre nada, em um dia de sol. Os pássaros cantando, as nuvens passando. Esse momento vai ficar guardado, e nós duas podemos tentar reproduzir esse dia, mas isso nunca mais vai acontecer. Ela já não será mais a mesma que era naquele dia, e eu também não. Todas as condições podem se repetir, inclusive nossas roupas, mas a única coisa que vai acontecer é que vamos criar novas memórias, sem poder reviver as antigas, porque aquele momento nunca mais vai voltar. Por isso escrever é algo majestoso, é como criar links para o passado. No futuro eu vou reler esse texto, as palavras me levarão exatamente para quem era eu quando escrevi isso.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Meu Primeiro Amor

Talvez seja só tristeza ...

Vaidade vívida embaixo do sol