Confiança ...

Em todo esse tempo, minha existência tem sido solitária, por dentro. Nunca senti que poderia realmente confiar em alguém meus segredos, sentimentos profundos ou qualquer outra coisa,e mesmo minhas amizades não eram 100% perfeitas, como todos pensam. O fato é que eu nunca confiei em ninguém de verdade, para nada, e isso me foi ruim por toda vida. Tinha vontade de chorar e contar tudo o que me acontecia a alguém, qualquer um, mas o meu orgulho não permitia, pois eu acreditava que se contasse a um "amigo" minhas fraquezas essas poderiam ser usadas contra mim, mais tarde.
Nunca havia conseguido me apegar a alguém de verdade, apenas exteriormente, mas bem no fundo, eu desconfiava de tudo e de todos. Minha psicóloga dizia que eu precisava confiar mais na minha mãe, mas eu sempre rebatia - e também, nunca me abri totalmente com a "profissional", e ela não descobriu o mistério-Adriane e nem me ajudou, em nada, -tinha um medo paranóico que, de noite, quando eu já estivesse dormindo, minha mãe se levantasse e me matasse friamente. Até hoje eu não sei o porquê dessas fantasias bobas, mas graças a elas, minha desconfiança no que é bom foi esfriando cada dia mais, e passei a me importar menos comigo mesma - não importava mais se estava doente, com anemia e prestes a morrer (desde criança eu sofro muito com anemia) - e meu pai ? Bem, ele era o que eu menos queria saber, nem queria ter conhecido na verdade, e eu tinha e tenho medo de sair com ele. Até ano passado, quando fomos no shopping escolher um presente para mim, eu fiquei com medo de entrar no carro com ele, medo de ser abusada, talvez, ou que ele me estrangulasse e me matasse, ou as duas coisas.
Tinha medo intenso de ficar sozinha em casa, que entrasse algum vizinho meu e me assassinasse, mesmo com minha irmã em casa, eu ainda assim tinha medo que ela, ao lavar louça, se revoltasse contra mim com a faca de cortar carne .
Por isso tudo, sempre preferi estar sozinha (em contradição com o último parágrafo) do que na companhia de pessoas que pudessem simplesmente resolver que não gostam de mim, e matar-me.
Sei, sou louca e preciso me tratar, já ouvi isso mil vezes ...
Mas, ficar sozinha nem sempre era bom, isso me machucava, também. Não ter alguém em quem possa confiar era e é algo estranho, ter de guardar tudo para mim mesma e fingir que está tudo bem, quantos sabem o que é isso de verdade ?
Digo isso por quê vejo coisas do tipo no facebook, menininhas que postam a frase "estou bem" formada por várias situações escritas em problemas, mas reparo que essas mesmas meninas são as que mais tem amigos e contam tudo à mim, que nem converso direito com algumas. Elas não sabem o que é isso de verdade .
Disso eu tirei uma única coisa boa : aprendi a escrever.
Sim, eu aprendi a escrever. Toda vez que almejava estar com alguém por perto para contar tudo, eu escrevia no meu diarinho. Ele era meu melhor amigo, agora é Kammoberry, o nome que dei ao blog como forma memorial do meu diário, muito especial para mim e inesquecível . Momentos bons e ruins anotados num simples caderno de 400 páginas, capa roxa que eu mesma havia feito, e ficava escondido para que ninguém lesse - embora algumas vezes eu tenha vacilado, e alguma pessoas chegaram a ler algumas partes, cheguei a mentir, dizendo que era tudo invenção para os desesperados que iam até meus pais dizer que eu estava com problemas emocionais e psicológicos.
Passei a escrever apenas pela madrugada, quando era seguro, meus pais no trabalho, irmã dormindo feito pedra, vizinhos também dormindo, e eu sozinha na sala, vendo o Cartoon Network e escrevendo, desenhando, às vezes lendo ... No ano passado, minha família foi morar na mesma casa que meus primos - por algum motivo - e eu passei a dividir um quarto com o meu primo, Felipe, e descobri algo realmente interessante : ele também não dormia de madrugada, ficava lá no mundinho dele, na internet.
A esse ponto preciso confessar que eu nunca gostei de internet - eu fazia alguns downloads apenas, até as pesquisas escolares eram feitas na biblioteca - mas depois de ir morar com meu primo, me foi apresentado o outro lado dos computadores, que eu não conhecia - nunca procurei saber, na verdade - postagens anônimas .
Entrar na deep web era algo totalmente novo, e até assustador ( as coisas que este lado obscuro da internet possue são medonhas ) mas logo me acostumei . Com o tempo de convivência com Felipe, me tornei tão gamer quanto ele, e deixei meu diário de lado.
Nessa época me foi apresentado o facebook . (Até hoje me pergunto, por quê ??) Logo de cara, criei minha página, anônima, claro, onde eu poderia escrever o que eu quisesse, e por mais idiotas que fossem minhas postagens, ainda assim, muita gente gostava .Comecei a sentir falta de um certo caderno ... E ele havia sumido. Não sei o que aconteceu com ele, toda minha vida, meus segredos íntimos, minhas crises depressivas, minhas angústias, desenhos pessoais, sentimentos (...) anotados lá, e ele havia sumido . Foi uma grande perda, mesma que boba, eu sofri com isso, mas o que me intriga até hoje é imaginar onde, como e com quem está . Será que alguém leu ?
Me foi sugerido criar um blog - eu neguei a ideia no início - e foi o que fiz. Por idiotice minha, fiz meio que um diário público, e revelei de repente tudo o que sempre escondi .
Com isso eu me toquei : estou diferente, minha confiança aumentou por conta disso, afinal, alguns segredos eu confiei aos que perdem seu tempo e dão atenção aos meus textos ruins, e dessa forma, desabafei .
Sinto que posso escrever de tudo aqui, e é essa a minha mudança maior : confio em mim mesma, e confio que, mesmo que eu tenha haters, existem fãs, também - poucos, mas existem - alguém que eu posso acreditar que curte realmente tudo o que faço (ou quase tudo).

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Meu Primeiro Amor

Talvez seja só tristeza ...

Vaidade vívida embaixo do sol